Com teste da linguinha, pode ser identificada a necessidade da frenotomia, em caso de evidência de que a anquiloglossia seja a causa da dificuldade de amamentação.
O que é Anquiloglossia?
A anquiloglossia (do grego ankilos – soldagem, fusão e glossa – língua) alteração de desenvolvimento anormal do freio lingual que está curto impossibilitando sua elevação chamado de língua presa. Caracterizada por frênulo lingual anormalmente curto e/ ou grosso que limita o movimento da língua verificada assim que a criança nasce.
É uma anomalia congênita que pode apresentar-se como anquiloglossia total quando o ápice da língua encontra-se bífido. Diversas consequências são relacionadas como as desordens articulares, respiratórias, alterações no crescimento maxilo-mandibular, deglutição, sucção, mastigação, fonação e higiene oral.
A anquiloglossia tem sido associada a dificuldades na amamentação. Na prática clínica observam-se queixas maternas com relação a dor e infecção mamilar, dificuldades e a interrupção da amamentação, falta de leite e ganho inadequado de peso pelo bebê e outros agravos como dificuldades na higiene bucal. Porém, não existem evidências fortes nesta correlação e mais estudos precisam ser realizados.
Evidencia-se desta forma a necessidade de atitudes integrativas para o correto diagnóstico e decisão cirúrgica precoce visando a qualidade de vida no binômio mamãe-bebê.
Para estabelecer um diagnóstico mais preciso de anquiloglossia é necessário uma equipe multidisciplinar com pediatras, odontopediatras e fonoaudiólogos.
O que é o teste da linguinha?
O teste da linguinha é um exame padronizado que possibilita diagnosticar e indicar o tratamento precoce das limitações dos movimentos da língua causadas pela língua presa que podem comprometer as funções exercidas pela língua: sugar, engolir, mastigar e falar.
O protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês (Teste da Linguinha) foi desenvolvido pela Fonoaudióloga Roberta Lopes de Castro Martinelli. De acordo com a Lei nº 13.002/2014 é obrigatória a realização do protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês em todos os hospitais e maternidades do Brasil.
Como fazer o teste da linguinha?
O teste da linguinha deve ser realizado por um profissional da área da saúde qualificado, como por exemplo, pediatras, odontopediatras e fonoaudiólogos, para a aplicação do Protocolo de Avaliação do Frênulo Lingual com escores para Bebês. Este protocolo é dividido em história clínica, avaliação anatomofuncional e avaliação da sucção não nutritiva e nutritiva.
O protocolo tem pontuações independentes e pode ser aplicado por partes, até o 6º mês de vida. Na avaliação o profissional deve elevar a língua do bebê para verificar se a língua está presa, e também observar o bebê chorando e sugando. O exame não tem contraindicações. Recomenda-se que a avaliação do frênulo da língua seja inicialmente realizada na maternidade. A avaliação precoce é ideal para que os bebês sejam diagnosticados e tratados com sucesso.
Existem graus variados de língua presa, por isso a importância de haver um teste que leva em consideração os aspectos anatômicos e funcionais para fazer um diagnóstico preciso e indicar a necessidade da realização da “correção do frênulo que está preso na língua”. Se o resultado da avaliação do protocolo indicar a presença da língua presa, o procedimento de liberação do frênulo lingual deve ser realizado por um profissional dentista.
Impacto da não realização do teste
É importante que o bebê faça o exame o mais cedo possível, preferencialmente no primeiro mês de vida, para que se descubra, com a maior antecedência, se tem língua presa, evitando dificuldades na amamentação, possível perda de peso e, principalmente, o desmame precoce, com introdução desnecessária da mamadeira.
A língua presa pode trazer consequências tanto para a saúde materna (dor, fissura mamária, mastite, ingurgitamento mamário, privação do sono, diminuição da produção de leite materno) quanto para a saúde do bebê (refluxo, cólica, pega incorreta, dificuldade de ganho de peso, engasgo) conforme figura 1. Seguir essas recomendações faz toda diferença para a amamentação e consequentemente para a boa saúde do bebê.
Métodos de tratamento
Diversos métodos de tratamentos podem ser empregados como: laser, bisturi ou tesoura cirúrgica. Devem ser estabelecidos pelo cirurgião dentista para que ofereça segurança, eficácia e qualidade de vida. O procedimento cirúrgico a laser proporciona excelente hemostasia.
Obedecendo os princípios cirúrgicos da decisão, necessidade e oportunidade a anquiloglossia pode ser corrigida a divisão da língua através da frenectomia frenotomia ou frenuloplastia.
A frenotomia ou frenuloplastia é um tratamento seguro, rápido e eficaz que pode proporcionar alívio imediato dos sintomas, promover a amamentação. Realizada sem ou com anestesia (tópico) e tesoura com cautela para não lesionar a veia lingual. Normalmente utiliza-se hemostasia com gaze e colocação do bebê para amamentar imediatamente minimizando o desconforto.
Frenectomia lingual: incisão no tecido fibroso na submucosa , divulsão e se necessário remoção do tecido mucoso. Normalmente ocorre entre 5 e 6 anos de idade ou conforme indicação conjunta do pediatra , fonoaudiólogo e odontólogo.
No planejamento cirúrgico deve-se observar o cuidado para não lesar as carúnculas sublinguais na região do soalho bocal.
Técnica:
- Anestesia tópica e infiltrativa bilateral na região do freio lingual bilateralmente.
- Tracionar e imobilizar a língua (tentacânula ou através da passagem de um fio de sutura na ponta da língua).
- Incisão do freio lingual com tesoura ou lâmina de bisturi n.15, o mais próximo possível da base da língua.
- Divulsão das fibras laterais ao freio com lâmina de bisturi ou tesoura.
- Sutura simples, se possível com fio reabsorvível 3.0.
- Prescrever analgésico e entregar as orientações pós cirúrgicas.
- O acompanhamento periódico multiprofissional deve ser continuado durante o crescimento e desenvolvimento da criança.
Sobre as Autoras:
Fga. Gabriele Magalhães Mesquita Netto
CRFa5 8560-6
- Fonoaudióloga formada pela UFMG
- Tutora do Método Canguru pelo Ministério da Saúde
- Formação em Consultoria em Amamentação pela Iniciativa Hospital Amigo da Criança – IHAC/MS
- Responsável Técnica em Fonoaudiologia Hospitalar
- Docente do curso de Habilitação em Odontologia Hospitalar/CEMOI
- Residência em Saúde do Idoso- HC/UFMG
Prof.a Dra. Letícia Vieira
CRO- DF 3891 IE 880
- Professora da Disciplina Odontopediatria do UNICEPLAC -DF
- Coordenadora Pós-Graduação em Odontopediatria UNINGÁ-DF
- Especialista, Mestre e Doutora em Odontopediatria
- Especialista em Ortodontia – UNINGÁ -DF
- Habilitação em Óxido Nitroso – ABO-DF
- Habilitação em Laser – ABO-DF
- Certificação em CardioEmotion – Intelectus -SP
BIBLIOGRAFIA:
Imparato, JCP. Anuário de Odontopediatria Clínica – Integrada e atual – Vol.2.Ed.Napoleão,2015.
Sucasas da Costa, LRL. Passo a passo em odontopediatria clínica, Gráfica UFG, 2019.
Pransky, SM et al.Breastfeeding difficulties and oral cavity anomalies: The influence of posterior ankyloglossia and upper-lip ties. International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology 79 (2015) 1714–1717.
Shavit et al.Randomized Trial to Evaluate the Effect of Two Topical Anesthetics on Pain Response During Frenotomy in Young Infants. American Academy of Pain Medicine. 2016.
Associação Brasileira de Motricidade Orofacial. Informativo Teste da Linguinha. [Acesso em 24 de novembro de 2017]. Disponível em URL: http://www.abramofono.com.br/index.php/2016/05/02/informativo-teste-da-linguinha/
Cartilha do Teste da Linguinha: para mamar, falar e viver melhor.- São José dos Campos, SP: Pulso Editorial, 2014.
Fujinaga CI, Chaves JC, Karkow IK, Klossowski DG, Silva FR, Rodrigues AH. Frênulo lingual e aleitamento materno: estudo descritivo. Audiol Commun Res 2017; 22 (e1762):1-7.
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