21/09/2013 – A Coordenação do curso de Capacitação em Odontologia Intensiva do CEMOI concede entrevista a Associação Brasileira de Odontologia. O ponto central da entrevista está em torno da legalidade, capacitação e mercado de trabalho para os cirurgiões dentistas brasileiros.
Em que momento se encontra o projeto Dentista na UTI?
O Projeto de Lei (PL) 2.776/08 do ex Deputado Federal Neilton Mulin ganhou força no Congresso no início desse ano. Após a reunião do presidente do CRO-DF, Dr Samir Najjar, com a ex relatora do PL DF Érika Kokai e o presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC), Dep. Décio Lima, o PL foi inserido na pauta para votação culminando na aprovação por unanimidade parlamentar, em 21 de maio de 2013.
Atualmente o PL é terminativo e encontra-se no Senado Federal com o relator Senador Sérgio Souza. Isso significa uma jornada burocrática bem menor do que foi no passado. Entretanto não dispensa olhos atentos e a presença de profissionais com casuísticas clínicas em ambiente de terapia intensiva para assessorar os parlamentares nos processos decisórios.
De que forma seria possível acelerar a aprovação do projeto? A comunidade Odontológica poderia ajudar de alguma forma?
Primeiramente precisamos sair da inércia. A sociedade brasileira precisa conhecer o assunto. Este é o ponto de partida. A aprovação por unanimidade no Congresso não foi por acaso, conseguimos convencer os parlamentares da importância da presença do CD na UTI por meio de reuniões e notas de esclarecimento. Devemos utilizar a mesma estratégia para alcançar a comunidade utilizando mídias sociais.
Para acelerarmos a aprovação, precisamos de mais combustível. Necessitamos extrair energia de uma fonte segura e legítima, aqui, me refiro a nossa classe. Hoje, mais madura, dispõe de excelentes profissionais dedicados integralmente ao ambiente de UTI, sendo reconhecidos por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e fonoaudiólogos pelo primoroso trabalho e resultados alcançados. A esses pioneiros somos gratos pelos conceitos e protocolos apresentados, mas, nessa reta final, até a aprovação do PL, precisamos de mais união.
Assim, faço dois apelos aos nossos colegas. Primeiramente, conheçam com profundidade o tema: Odontologia na UTI. Há diversos artigos científicos que abordam a necessidade do CD na UTI, seja, pela redução dos casos de pneumonia nosocomial ou por meio da prevenção e redução da sepse que não se esgota com a parte científica. Na prática, em gestão hospitalar, constata-se até mesmo a queda dos custos com antibioticoterapia e diminuição do tempo de internação. Em um segundo momento que alertem seus pacientes informando-os sobre as graves complicações em leito hospitalar podendo levar até ao óbito pela ausência desse profissional devidamente capacitado.
O Ministério da Saúde reconhece essa importância. A Resolução Normativa nº 7 da ANVISA prevê a presença do odontólogo, devidamente capacitado compondo equipes multidisciplinares intensivas. Em São Paulo, o Dr Marcos Cyrillo, Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia presenciou a significativa redução dos índices de infecção após a implementação da equipe odontológica intensiva no Hospital dos Servidores de São Paulo.
Por fim, nossa classe pode dar celeridade ao processo de aprovação encaminhando e-mails aos parlamentares envolvidos com a aprovação do PL ou se preferirem para o CRO-DF (www.cro-df.org.br fale conosco) à Comissão de Odontologia Hospitalar relatando casos em que a presença do CD na UTI fez ou faz a diferença em sua região. Estamos montando um dossiê para apresentação formal ao Senador Sérgio Souza. Outro ponto muito importante é o comparecimento nas audiências públicas no Senado caracterizando a força da nossa classe e seus anseios.
O que a comunidade irá ganhar com a aprovação do projeto?
Sem dúvida, mais qualidade na saúde brasileira. Infelizmente, ainda não é o pensamento de todos. Um grande equívoco. A presença sistemática do CD na UTI está longe de ser ineficaz e dispendiosa. Uma visão ultrapassada de gestores hospitalares e planos de saúde que rapidamente vêm sendo ajustada. Atualmente no Hospital Daher Lago Sul, todos os pacientes de UTI recebem cuidados especiais de uma equipe de Odontointensivistas, responsáveis por diagnósticos de lesões orais, tratamentos preventivos, corretivos e paliativos. Dr Bomfim, Diretor Médico, pioneiro no centro oeste pela inserção do CD na equipe multidisciplinar, garante aos pacientes de alta complexidade diagnósticos rápidos e eficazes, graças à amplitude diversificada de conceitos dessa equipe. A presença marcante da Odontologia Intensiva no Daher foi responsável por diagnósticos decisivos, como a constatação de endocardites bacterianas, focos infecciosos e graves lesões fúngicas sendo corrigidos por intervenções cirúrgicas odontológicas ou na administração de antibióticos e antifúngicos mais eficientes e menos onerosos.
A satisfação de toda equipe intensivista envolvida com esse processo atinge os pacientes e seus familiares, confortando e transmitindo confiança pelo esforço conjunto de uma equipe completa em busca da alta hospitalar. Somos otimistas em acreditar que esse novo conceito possa, a curto prazo, ser capilarizado nos hospitais públicos, privados e filantrópicos de todo país.
Qual o nome da disciplina que a Sra leciona e onde?
Ministro aulas sobre o tema: A inserção do cirurgião dentista na UTI: histórico, conceitos e protocolos. Na parte prática, essencial à capacitação, supervisiono uma equipe de vinte e cinco alunos nas três UTIs do Hospital Daher – Lago Sul, em conjunto com a Direção de Odontologia e Acadêmica do Centro Multidisciplinar de Odontologia Intensiva (CEMOI).
Importante ressaltar que o foco do curso é a multidisciplinaridade, instrumento fundamental para conduzir o CD nessa nova área. Para garantir a sedimentação dos conceitos de interdisciplinaridade, os alunos do curso compõem um projeto inovador no país, o Odontointensivista Trainee Intensive Care (OTIC), um estágio prático, no qual o profissional acompanha o “round” de discussões com os chefes de cada área (UTI, CCIH, Enfermagem, Fisioterapia, Odontologia, Fonoaudiologia e Nutrição). Um grande diferencial que agrega valor técnico, científico e nas relações interpessoais com os demais intensivistas.
Como Coordenadora do CEMOI tive a satisfação de firmar duas grandes parcerias. A primeira com o Dr Rodrigo Conti, chefe da UTI do Daher, peça fundamental no processo de capacitação e inserção do CD na UTI. A segunda, uma parceria internacional com a DUFLEX, empresa norte americana, com o objetivo de elaborar artigos científicos, testar e adaptar novas técnicas odontológicas em ambiente de terapia intensiva. Assim, contribuímos não só com a capacitação dos CD na UTI, mas, também, para enaltecer a classe odontológica diante das demais áreas de saúde por meio de inovação, pesquisa e desenvolvimento.
Qual o conteúdo programático desta disciplina?
O curso abrange diversas áreas da saúde dedicadas aos pacientes de alta complexidade como a medicina, enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia e nutrição intensivas e as complementares como Direito Odontológico na UTI e Gestão Hospitalar. Atualmente, o conteúdo prevê uma carga horária mínima de 210 horas em um fim de semana por mês, podendo ser acrescido de 160 horas de estágio (OTIC), totalizando 370 horas. Quanto ao corpo docente o CEMOI dispõe de Mestres e Doutores de SP, RJ e DF atuantes em suas áreas de formação.
Para a turma IV/fev-2014, o CEMOI disponibilizará uma carga horária de 310 horas além das 160 de estágio, totalizando 470 horas, adequando o conteúdo programático às exigências de mercado, no que se refere à qualidade da formação de um profissional de ponta na área de saúde.
Esta pode ser um bom nicho de mercado?
Sim, uma ótima oportunidade para os que querem diversificar indo além das fronteiras impostas pelas paredes dos nossos consultórios. Para isso, a multidisciplinaridade torna-se uma ferramenta importante nesse processo. Interagir com outras áreas da saúde significa conhecer novas necessidades ainda inexploradas. Estou certa que a relação sistemática com outros profissionais da saúde garante um compromisso ainda maior do odontólogo com o seu paciente podendo atendê-lo com segurança, no consultório, hospital, centros e unidades de terapia intensiva ou até mesmo em residências, no modal home care.
Dra Claudia Baiseredo
Coordenadora do Centro Multidisciplinar de Odontologia Intensiva
Presidente da Comissão de Odontologia Hospitalar do CRO-DF
Membro Fundador do Colégio Brasileiro de Odontologia Hospitalar e Intensiva
Assessoria de Comunicação
Revista ABO nr 53 ago/2013